Quem sou eu

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Administrador por profissão Um cearense como tantos outros que deixaram a boa terrinha para ganhar a vida em São Paulo. Bem humorado como todo cabeça chata.

5 de out. de 2011

Rompantes

Estou cá em minha mesa de trabalho, pensando mais na vida do que no trabalho. Tarde fria de final de inverno na cidade de São Paulo, o céu se mostra cinza. Que saudades de minha boa terrinha com seu céu  azul, onde o sol brilha o ano todo com uma claridade dourada que só Fortaleza tem. Mesmo nessa tarde acidentada, não me deixo abater pelo tempo nublado que pode influenciar no estado de espirito de alguns, mas não no meu. Quando escrevo tudo muda, e se o mundo lá fora se apresenta sem cor, posso decidir que o meu mundo seja bem diferente, minha imaginação não tem limites e a realidade é bem menor do que cabe na tela de meu computador. Se é dia, posso fazer virar noite, se chove, faço as nuvens sumirem e tudo se  ilumina com  a luz mais intensa do sol mais brilhante. Quando escrevo posso me dar ao luxo de ter esses rompantes – querer ser Deus -  e talhar a realidade conforme minha vontade. Que delicia que é quando as palavras fluem pelos meus dedos, vindas não sei de onde, sigo como um médium em transe a dedilhar no teclado do computador palavras que não fazem sentido, sentimentos longínquos, saudades de amigos distantes, lembranças de eras passadas. Viajo por um mundo só meu, imagino ser um grande musicista a tirar os mais incríveis sons num grande piano de calda. Nesses momentos, quando escrevo, me vem uma vontade louca de dançar, de cantar, de colocar no papel o mais belo poema jamais escrito pelo mais genial escritor. – essa a mais bela palavra - Porém a realidade me chama, o dia continua cinza. Por mais prazeroso que seja escrever paro por aqui, senão pode aparecer outro com rompantes de Deus – chefe no trabalho sempre aparece – assim fico com a sensação de que quem manda na minha vida e no meu tempo ainda sou eu.

27 de set. de 2011

Meu grande amor

Lembro-me como se fosse hoje. Era uma noite de sexta feira , início do mês de dezembro de 1994. Estava em casa – casa aqui é mais uma força de expressão, morava em um quitinete no centro de Fortaleza – quando minha irmã Elisia, a minha irmã preferida, me falou de uma conhecida dela que passava férias em Fortaleza e procurava companhia para sair. Eu tinha decidido ficar em casa naquela noite. Naturalmente, diante desse novo fato, é logico, que mudei de pensamento. Após uma breve conversa pelo telefone fui lá conhecer a moça. A noite foi ótima, bebemos – naquela época eu ainda bebia -dançamos, trocamos alguns beijinhos e , para minha tristeza, foi só. A mulher era jogo duro.


Sempre que esse fato me vem à memória fico divagando onde eu estaria se não tivesse mudado de ideia, posso escrever uma lista enorme de coisas que não teria feito; não teria feito faculdade, não teria mudado de cidade, nem escrito um livro e não teria o filho maravilhoso que tenho.

São essas pequenas oportunidades, que damos graças a Deus não tê-las perdido. Os grandes momentos da vida sempre acontecem quando menos esperamos, e lá se vão mais de quinze anos desde aquela noite de sexta feira. Como todo casal, já tivemos nossos altos e baixos, mas posso dizer que todos os momentos foram bons. Devo muito a essa mulher, muito do que sou e certamente o que mais serei na vida. Triste é o homem que perde a oportunidade de encontrar seu grande amor. Eu não perdi a minha.

Uma grande amiga.

Pouco me importa se o que escrevo será lido ou não por quem quer que seja – que mentiroso que sou – de uns tempos para cá tenho tido essa necessidade, vicio, seja lá o que for. Se me vem uma ideia, pensamento, ou sentimento por mais insignificante que me pareça – se é que existe sentimento insignificante – tenho que por para fora, se não tudo o mais para, as ideias, pensamentos, trabalho, tudo.


Que delícia que é quando as musas de plantão dão o ar da graça. Surgem como ninfas, me rodeando, a sussurrar doçuras em meus ouvidos. Quisera eu poder transcrever tudo o que sinto, o que penso, mas sou apenas um pretenso escritor ainda limitado a um português ruim e parco viver.

Quando penso em tudo que passei na vida, o que mais forte me vem a lembrança são os amigos que fiz, e graças a Deus conquistei alguns. É verdade que com o passar dos anos os caminhos nos separam mas, como canta Dominguinhos, os verdadeiros amigos mantêm a presença mesmo quando ausentes.

Tenho uma grande amiga, a primeira pessoa a quem tive coragem de mostrar um texto meu, que para meu espanto, gostou do que leu. Jamais esquecerei quando li a apresentação que minha estimada amiga escreveu para meu primeiro livro, tão marcante foi, que decorei na primeira vez que li. Palavras generosas que guardo com carinho em minha memória.

E assim vou seguindo a vida, com saudades dos grandes amigos e amigas em especial daquela que um dia elogiou um texto meu...

22 de set. de 2011

Tentando entender

Tempos atrás trabalhei em uma escola e uma coordenadora me mostrou um trabalho que estava fazendo com os alunos. Era basicamente, para que eles escrevessem algum assunto que gostariam de entender, fora do conteúdo de sala. Um garoto do sexto ano escreveu uma única palavra. Mulheres! Ah...Tadinho... ô meu Deus...tão novinho e querendo saber de coisas inexplicáveis. O que responder diante de pergunta tão sem resposta? Se ele soubesse que não há como entender algo tão sutil e ao mesmo tempo tão complexo. Ainda mais nos dias de hoje, quando elas estão dominando quase tudo – aliás, nessa mesma escola elas mandavam e desmandavam – tudo mesmo. Uma chegou até a presidência republica!! Meus Deus!! Onde vamos parar?! Eu mesmo, que já passei dos quarenta , posso dizer que já tive algumas, e não consegui entender nenhuma.


Mas quão belas elas são – as belas, as belas!! – no jeito de andar, de balançar os cabelos, na doçura da voz, na maneira de pedir...Não há nada mais inspirador que o corpo e alma de uma bela mulher. E por mais que eu saiba como é difícil compreendê-las, jamais deixarei de ama-las, continuarei - como o aluno do sexto ano – durante toda a minha vida...tentando entender...

19 de set. de 2011

Patrulha ideológica

E aí rapaziada!? Tempos difíceis esses em que vivemos, não? Parecem mais aqueles enlatados policiais das tvs americanas, “ Tudo que você disser, pode e será usado contra você” . Tomem cuidado meus amigos!! A patrulha ideológica esta nas ruas. Qualquer deslize, e pronto! Você será tachado de homofóbico, preconceituoso e sei lá mais o que. Para que isso não ocorra, os heteros, devem - para não serem estigmatizados de enrustidos - assumir que gostam do sexo oposto. Como diriam os homossexuais “ tem gosto pra tudo”. A moda agora é assumir!! Mas espera aí? O gay quando assume que é gay diz que saiu do armário, e o hetero sai de onde? Da churrasqueira? E mais, nós heteros só temos a palavra hetero para nos definir, enquanto que os homossexuais têm várias; gay, lésbica, travesti, transexual, bissexual e tal e tal... Discriminação contra os heteros!!! Precisamos de outras palavras - infelizmente no momento não me vem nenhuma - se não acabaremos virando minoria. Por falar em minoria, como é que pode existir uma minoria que reúne três milhões de pessoas numa parada? Minoria para mim só existe uma, a de anão, precisamos criar o dia do orgulho do anão!! Afinal a parada do orgulho gay já deixou de ser uma manifestação de protesto  de minoria  faz tempo, aqui em sampa virou  atração turística.É verdade! Tá até no calendário!!Só perde pro carnaval. Só não vira escola de samba, por que escola de samba tem limite de integrantes. Mas bem que podiam fundar uma escola de samba só de gays, né não? Eu fico imaginado os nomes; Unidos do arco íris, Acadêmicos GLBT , ia ser um barato, pena que faltaria o mestre sala, em compensação teriam vários candidatos(?) a porta bandeira. Agora a briga mesmo, seria para escolher a rainha da bateria.


E me digam uma coisa. Se alguém chama um cara de viado pode ser acusado de crime né? E xingar uma pessoa de filho da puta? Não é crime por quê? Afinal direitos iguais para todos, as putas também merecem respeito! Essas moças dedicadas, despojadas, altruístas que se empenham com tanta dedicação a diversão dos heteros. Vamos criar também do dia do orgulho da puta. Garanto que teremos o apoio de vários políticos.

Sei não pessoal, estou escrevendo aqui mas fico preocupado, vai que alguém não entende a brincadeira , pensa errado e começa a achar que sou preconceituoso, homofóbico? Sei não, acho que vou é deletar esse texto...será? Que nada!! Vamos em frente!! Sou mais é a favor que todos pensem o que quiserem, façam o que quiserem, , falem o que quiserem, sejam o que quiserem e desejarem. Nascemos livres e morreremos livres.

15 de set. de 2011

O casal

Costumo dizer que quem escreve pouco cria, no muito talvez apenas enxergue as coisas cotidianas por um prisma diferente. No meu caminho de casa para o trabalho e vice e versa – e eu não costumo mudar meus caminhos – não raro encontro um casal já maduro, eu diria que com netos já crescidos, mas o que me chama a atenção é a maneira como eles se tratam. Ao subirem no ônibus, o marido sempre atrás a amparar a esposa. Seguem viagem de mãos dadas em conversa sussurrada ao pé do  ouvido, na descida  o marido, mais uma vez a ampara-la, adianta-se para dar-lhe a mão como um moderno cavalheiro. Certa vez eu presenciei uma brincadeira do marido. A esposa estava sozinha no ponto de ônibus e ele chegou sorrateiramente por trás e deu-lhe um susto. É... as vezes precisamos fazer   dessas coisas... só para ganhar um abraço.  E  ao cruzarem meu caminho, meu dia fica mais  cheio de lirismo, enche-me o peito de esperança de que é possível sim, viver uma vida inteira juntos. Sem perder a ternura jamais.

O Catador

Acordou cedo, madrugada fria na cidade de São Paulo. A esposa já havia levantado e o cheiro doce de café enchia o barraco. José era seu nome. Mas poderia ser também Paulo, João ou Pedro. José, era mais um nordestino que deixara sua terra natal em busca de planos e sonhos. Senta-se a mesa a esposa serve-lhe o café e um pedaço de pão.


- Tem margarina não mulher?

- Tem só um pouco Zé, mas deixa pro Zezinho.

Ele olha pro filho dormindo num colchão que dias antes ele mesmo catara na rua.

- Vou-me embora mulher! Cuida do nosso filho.Não se preocupe que o dia de hoje não vai passar em branco Estou com fé em deus que a coleta vai ser boa.

Na frente do barraco um carrinho feito com carcaça de geladeira.

- Vamos embora Péduro!

Um cachorro vira-lata de pelo marrom pula para dentro do carrinho. Tempos atrás ele tinha achado o cachorro na rua com uma pata machucada. Por conta disso mancava e ganhou, do filho de José, o nome de Péduro. E lá se foi José. No peito a esperança de encher seu carrinho.No final do dia venderia o material na cooperativa

- Vou te falar uma coisa Péduro. Subir essa ladeira nesses dias de frio é duro. O ar ta muito seco. Ta vendo aquela nuvem cinza em cima dos prédios? É poluição. Toda a fumaça que sai dos carros, motos, caminhões fica acumulada. Outro dia, ouvi no rádio,o nome é inversão térmica.A fumaça não sobe e causa isso. Ouvi também, que existem cidades em que essa inversão térmica é tão grande que as pessoas têm que sair de casa usando máscara. Eu acho que logo, logo aqui vai ser assim também. Ufa! Conseguimos subir!Na volta a gente se diverte.

Passava quase sempre pelos mesmos lugares.Entra em uma rua estreita somente de casas. De porta em porta vai coletando material.

- Ta vendo Péduro? Aqui as pessoas têm um pouco de consciência.Deixam o lixo separado. Assim é mais fácil. Muito material não é reciclado por falta de coleta adequada. Se as pessoas não separam, o material vai todo pro lixão aumentar a poluição da cidade. Vamos ver o que tem aqui. Garrafas, papelão, opa! Olha só Péduro! Um saco cheio de latinhas!!Que bom!! – balançando o saco fazendo as latinhas tilintarem - Tem umas pilhas aqui...Ninguém deveria jogar pilhas no lixo. É perigoso. As pilhas possuem vários metais que contaminam o solo.Vou levar essas pilhas para a cooperativa, lá eles dão um destino adequado. O certo mesmo, seria as pessoas levarem as pilhas nos pontos de coleta. As lojas que vendem essas coisas têm obrigação de recebê-las volta.

E assim ele seguia , enchendo seu carrinho e conversando com o pequeno Péduro. Mais uma rua, mais material para coletar.

- Nessa rua aqui Péduro, os moradores não separam o lixo.

Parou em frente a uma casa e começou a mexer nos sacos separando o que poderia ser reciclado. O portão da casa se abre e sai um sr. muito irritado já chega gritando com José.

- O QUE É VOCÊ ESTA FAZENDO AÍ? QUE ESTORIA É ESSA DE MEXER NO MEU LIXO? OLHA SÓ A SUJEIRA!!

Não era a primeira vez que alguém o tratava assim. Na verdade já estava acostumado com esse tipo de atitude. Olha para o Péduro, faz uma cara de quem diz “tá vendo”?

- Olha moço. O sr. não se preocupe que a sujeira eu vou limpar.E me desculpe por mexer no seu lixo. Mas sabe o que é... esse é o meu trabalho.Ando pela cidade ajudando a preservar o meio ambiente. As pessoas acham que nos catadores só sujamos as ruas ou atrapalhamos o trânsito. Não é verdade.Veja só. Estou com meu carrinho quase cheio. Todo esse material que eu recolhi não vai voltar para a natureza. Nem poluir rios. Vai evitar que arvores sejam derrubadas. Essas garrafas plásticas por exemplo. O sr. sabia que o plástico demora mais de cem anos para se decompor na natureza?Essas aqui que eu catei no seu lixo vão ter outro destino. Serão recicladas e se transformarão em matéria prima para vários produtos.

O homem, meio sem jeito, olha para José, no semblante um misto de surpresa e admiração.

- Como é o seu nome?

- José.

- Me desculpe José, pela maneira como te tratei. A partir de hoje vou separar o lixo.

- Não tem o que desculpar.Só em separar o lixo para mim já ta bom.Assim estará ajudando não só a mim mais a cidade toda.

Despediu-se do dono da casa e seguiu pela rua fazendo o seu trabalho.Estava passando por uma avenida mais movimentada levou um susto com a buzina de um carro.Uma dessas camionetes grandes de vidro fumê, aros reluzentes. O motorista grita pela janela.

- SAI DO MEIO DA RUA SEU IDIOTA!!

José pára ,se recupera do susto e segue em frente. O dia fora bom o carrinho estava cheio achou um caminhãozinho de brinquedo que guardou com cuidado.

- Vamos lá Péduro! Vamos descer essa ladeira!

Ia pulando ladeira abaixo, a cada passo era como se flutua-se no ar apoiando-se no carrinho. Vendeu o material.Passou na padaria comprou margarina, um pequeno bolo e suco.Ao chegar beijou a esposa, deu o caminhãozinho ao filho e festejaram. Era aniversário do Zezinho. Em baixo da mesa Péduro abanava o rabo e comia seu pedaço de bolo.O dia em fim não passaria em branco.

14 de set. de 2011

DE OLHO NO ESPELHO

Amanhece o dia e como sempre faço, encaro-me frente ao espelho que, sem nenhuma cerimônia, joga-me na cara os anos que já se passaram. Os cabelos, de minha grande cabeçona chata, há muito já clarearam embora, eu deva dizer, que o fizeram precocemente, mas tudo bem, podem mudar de cor contanto que não me abandonem. As rugas parecem procriar e a cada dia se tornam mais e mais aparentes, tudo bem também, são como cicatrizes de guerra pelas batalhas vividas. A barba serrada, os pelos que teimam em nascer nos piores lugares, ok o cara não precisa entrar nessa de ser um metrossexual , mas também , convenhamos, não deve se tornar um neandertal. E a barriga, - que minha esposa e filho fazem questão de me lembrar que existe, devem achar que além de velho estou ficando cego - admito que já foi menor ,tempos atrás sequer existia, é por isso que eu falo que essa barriga não é minha, apareceu não sei e onde. È por essas e outras que concordo com meu sogro quando diz “ ficar velho é uma merda”.


Mas olhando bem, com um pouco mais de carinho e atenção, até que me tornei um corôa simpático, eu diria até com um certo estilo e um pouco de charme também. Consigo manter meu bom humor e sou capaz de fazer me amada sorrir de vez em quando, tenho condição de brincar com meu filho como se criança fosse e ainda curto o bom e velho rock in roll. Tenho grandes amigos, ótimas lembranças e ainda muita lenha pra queimar.

Meus braços podem não ter mais a mesma força, nem meus olhos o mesmo brilho de outrora, mas meu coração é de menino e ainda arde em meu peito uma vontade louca de vencer, pois o espirito não envelhece jamais.

Já passei dos quarenta, e que venham os cinquenta, sessenta, setenta, oitenta... e quantos mais forem possíveis, serão todos muitos bem vindos, contanto que eu possa me olhar de frente no espelho, e ver no fundo de meus olhos que tudo por que passei não foi em vão.

14 de jun. de 2009

Crônica que abre o livro

Oi, pessoal!! Para vocês conhecerem um pouco do livro.

SAMPA NA HORA DO RUSH


Olha, vou lhes contar. Já vivi muita coisa lá no meu Ceará, e quando cheguei à terra da garoa – ou melhor, do toró! – o susto foi grande. Carro pra tudo quanto é lado, prédio a dar com pau e gente correndo, sempre com pressa. Aliás, acho mesmo que paulista só gosta de fazer as coisas todos juntos.
Pois é, e cheguei por essas bandas, como diria o grande Luis Gonzaga “a mala era uma trouxa e o cadeado era um nó”.
E fui explorar a cidade. Lá pela Praça da Sé, tinha uma aglomeração. Cheguei para olhar de perto, vi dois policiais batendo em uma pessoa. Perguntei para um cidadão que estava ao meu lado:
– Que foi que esse cara fez?
– O policial pegou ele cheirando farinha.
Tratei logo de sair de perto. Se o cara tava apanhando daquele jeito só porque estava cheirando farinha, imagine se o policial descobre que eu como?!
Eu tinha que ir pra estação Barra Funda. Um amigo tinha me dado a dica:
– Cara, você pega o Metrô para o Jabaquara e faz a baldeação na Sé. É super rápido.
E eu pensando: pra quê levar um balde para pegar o Metrô? Mas o cara era paulista; devia saber do que estava falando. Arrumei um balde e fui.
Metrô é uma maravilha! Tudo muito sinalizado, aviso no sistema de som a todo instante. Chegamos à estação da Sé, eu e meu balde, bem na hora do rush (não sei nem que diabéisso, mas os paulistas falam assim). Aí, começou meu suplício. Tudo bem, é bem sinalizado, mas tem placa demais! Parei um pouco para me situar, aproveitei e usei o balde como banco, e fiquei só olhando o jeito do povo.
Vocês já repararam que ninguém obedece aos avisos no sistema de som? “Atenção, não corra na plataforma”. Só via era gente correndo pra tudo quanto era lado. “Ao toque da campainha não entre nem saia do trem”. Eu vi, pelo menos, umas quatro pessoas ficarem presas nas portas. Isso quando não acontece do sujeito vir correndo, e entrar com tudo no trem, alguns mais alvoroçados dão com as fuças na outra porta. Então, é bom obedecer aquele outro aviso “Ao entrar no trem não permaneça nas portas”, e eu acrescentaria “você pode levar uma trombada”. Agora, acho legal mesmo, é quando a pessoa vem correndo e a porta fecha a um passo antes dela entrar. Aí, o sujeito dá um suspiro, e faz aquela cara de quem perdeu um orgasmo. Ahhhhhhh.
Depois que me situei, fui lá pegar o trem para a estação Barra Funda. Como era a hora do rush (ainda vou descobrir que diabéisso), tava lotado de gente. Estou lá, firme, segurando meu balde. Quando o trem apareceu no túnel, começou o aquecimento na plataforma. Sabe como é? Aquele balanço, de um lado pro outro, os ombros se tocando... O trem parou, para minha sorte, eu estava bem na porta, e fui junto com a massa. Logo estava na plataforma de novo.
– Nossa!! Bem que me falaram que esse negócio era rápido.
Quando olhei para trás, o trem tava saindo. Eu tinha passado direto nas duas portas e saído do outro lado. Na minha mão só a alça, o balde tinha ficado no trem.
Tem também a questão do futebol. Em São Paulo, a primeira coisa que se pergunta para alguém, depois do nome, é para qual time a pessoa torce. Se você não tem um time, vira uma espécie de E.T. Eu sempre achei esse negócio de torcer pra time de futebol meio suspeito. Pensa só. O camarada, ao invés de estar em casa, com a esposa, ou namorando, vai para um estádio junto com outros quarenta mil homens, ver vinte e dois homens correr atrás de uma bola? Aí o time deles METE um gol. Pronto! Tá iniciada a suruba, os caras se abraçam, se beijam, choram, têm orgasmos EPTELIAIS! Sinceramente, futebol pra mim é coisa de viado.
Esse negócio de futebol é sério. Tive algumas dificuldades por não ter time.
- O meu!! Você é o quê?
- Sou cearense, graças a Deus.
- Não, meu!! Quero saber para qual time você torce.
- Pra time nenhum.
- Pô, estranho, hein meu?
Mas arrumei um jeito de contornar esse tipo de situação. Eu tinha um vizinho que era corintiano. Imagine morar ao lado de uma pessoa que todo final de semana colocava para tocar o hino do Corinthians... No dia das mães? Hino do Corinthians. Dos pais? Hino do Corinthians. Natal? Hino do Corinthians, e sempre no ultimo volume? Quando o Corinthians ganhava, lá ia a criatura berrar na janela: “SAMO CÃOPEÃO!!” Aí, eu peguei um certo abuso do Corinthians, aliás esse time só me dá alegrias. Corinthians perdeu? Pronto! Minha semana tá ganha. Agora, quando alguém me pergunta pra que time eu torço. A resposta vem fácil: contra o Corinthians!!
Não posso esquecer de falar do trânsito. Como falam os paulistanos: “Coisa de loco, meu!!” Tai um negocinho complicado o trânsito de Sampa. Primeiro, parece que todo mundo tem carro. Depois, dá a impressão que estão todos indo ao mesmo lugar e ao mesmo tempo. Na hora do rush, então (eita palavrinha esquisita)... E para completar, não existe caminho reto. É viaduto, elevado, cebolão, marginal disso e daquilo. Se você não conhece o caminho, lhe aconselho a não tentar achar sozinho. É difícil, passa sempre por um cemitério... Falando em cemitério, outro dia fui acompanhar um amigo que estava querendo comprar um terreno num cemitério. O cara tava bem de saúde, mas sabe como é, nunca se sabe o dia de amanhã. Pois bem, chegamos lá no cemitério (por favor, não me perguntem onde fica). A papa-defunto, quer dizer, a corretora de jazigos, muito animada, ia mostrando tudo. Quando chegamos na sala do velório...
– Olhem só, que local maravilhoso a sala dos velórios. Aqui, nós temos a preocupação de dar o maior conforto aos parentes, porque para o CLIENTE, isso não vai ter mais muita importância. Temos todos os APETRECHOS para o velório, vocês só entram com o defunto, não importa qual seja a religião viu? Católica, protestante, espírita, adventista, macumbeiro. Temos de tudo. Crucifixos, velas, imagem de santos, aqui quem manda é o CLIENTE, se não, não teria a menor GRAÇA.
Mas voltando ao trânsito, outro dia pedi informação.
– Amigo, como faço pra chegar no fórum?
– Ô meu, pega aí a Marginal até a ponte do Limão e segue reto. Aí, você vai CAIR ali próximo do Playcenter, não dobra não, continua reto, e já vai pegando “as direita” que mais uns trezentos metros tem uma entrada. Não entra nela não, segue reto, aí na próxima alça você VIRA “as esquerda” que o fórum é do outro lado. Tá ligado, mano?
E eu pensando... primeiro tinha que CAIR e depois VIRAR não sei onde. Vou nada!! Dei o maior duro pra comprar meu “POIS É” (“Pois É”, para quem não sabe, é como os paulistas chamam carro ZERO) e o cara fala que tenho que VIRAR meu carro?! Desisti e fui embora. Pelo menos para casa eu sabia o caminho.
E os motoloco ninja? Na hora do RUSH (ói o bicho aí de novo), os caras aparecem do nada. Por isso nunca ande com o braço do lado de fora do carro. Eles levam teu braço, o retrovisor e tudo mais que estiver na frente. Quando chove, então? Chiiiii!!! Aí, trava tudo, alaga tudo, a cidade fica parecendo uma lagoa. Então amigo, se chover, fique onde está. A não ser que onde você esteja comece a inundar... nesse caso, fuja para um lugar alto.
Por aqui tem todo tipo de gente. Japonês, chinês, coreano, africano, judeu, muçulmano, católico, protestante, e o bacana é que ninguém tá se matando por ser diferente, e também muito nordestino, aliás, em São Paulo nordestino é “baiano”. E também os mineiros. Tem até a história do mineirinho que chegou em São Paulo, tava lá, tranquilo, passeando pela Av. Paulista bem na hora do RUSH (essa palavra me persegue), entrou num prédio, daqueles enormes e ficou olhando deslumbrado, com a mão no queixo, para um elevador. A porta abriu e entrou uma mulher feinha, coitada, toda desarrumada. E o mineirinho olhando. A porta fechou. Quando a porta abre novamente e sai uma loira dessas de parar o trânsito na hora do RUSH (de novo essa palavra). O mineirinho falou: “Rapaz, sô, tô precisando demais por minha muiê numa máquina dessas!!”.
Feira livre tem todo dia, de domingo a domingo, pode procurar que acha. É uma gritaria sem fim.
– É A DEZ!! É A DEZ!!! QUEM QUER LEVAR MANDIOCA É A DEZ!! REAJE CEARÁ!! É A DEZ!!!
– ABRE O OLHO JAPONES, QUE TUA MANDIOCA É A DEZ, MAS É PEQUENA!!!
– OLHA O PIQUI!! UM É CINCO E TRÊS É DEZ!!!
– Nossa!! Esse piqui tá muito pequeno, moço!!! Eu gosto de comprar daquela moça. O piqui dela é maior.
– ALGUÉM VIU A MOÇA DO PIQUITÃO??
Pois é, pessoal, essa cidade é muito louca, MEU!! E eu estou aqui pensando, enquanto fico parado no trânsito, adivinha em que hora? Na do RUSH, meu filho!! Lá se foi meu retrovisor!! Eu acho que já passei por esse cemitério. Ai, meu Deus!! Hoje tem feira naquela rua!! Chii!! Tá começando a chover!! PUTZ!! Tinha esquecido!! O Corinthians ganhou o jogo hoje. Só faltava essa!! Um bando de corintianos!! –ÊÊÊ ÔÔÔ!! TIMÃOOOO!! SAMO CÃOPEÃO!! SAMO CÃOPEÃO!! Pronto!! Descobri o que quer dizer RUSH!! É que o sotaque paulistano deixa todas as vogais fechadas!! A hora na verdade é do RACHA!!
Falando sério, São Paulo é uma cidade boa de se viver. Tem de tudo. Acolhe a todos. É uma grande cidade. Paradoxal. Em São Paulo todos os espaços estão ocupados, mas, se a pessoa quiser, ela consegue ocupar o seu espaço também. Sampa lhe impõe um ritmo, e naturalmente cobra seu preço. E é esse ritmo e essa cobrança que faz de São Paulo ser o que é. Nessa cidade, passei as melhores e maiores dificuldades de minha vida. Se me arrependo de alguma coisa? De não ter vindo para São Paulo antes.
Essa cidade me deu tudo!! São Paulo, muito obrigado!!